O cabelo crespo não é algo que constitui apenas a esfera da estética ou da moda, como muitos ainda fazem questão de colocá-lo. Falar sobre cabelo crespo é uma pauta que está imbricada em outras, principalmente no que se refere à negritude, visto que cabelo crespo é algo que está para além do belo, é algo que constitui a identidade negra e é também uma ferramenta política de luta e resistência.
Responder essa contestação exige trazer à tona alguns aspectos da formação da nossa sociedade, melhor dizendo, evidenciar processos históricos que contribuíram para a desvalorização do negro e de tudo que está associado à figura do negro(sua ancestralidade, sua cor, cabelo, cultura, traços fenotípicos-nariz largo, boca grosa, etc.), em detrimento de uma hipervalorização da cultura dominante, ou seja, os padrões estéticos brancos eurocêntricos.
A depreciação de características físicas e de aspectos culturais do povo negro, sustentada por teorias e ideologias racistas, e a valorização dos padrões eurocêntricos, contribuíram para a criação de categorias reducionistas, generalistas e opostas:
O que é do NEGRO é feio e/ou ruim; O que é do BRANCO é bonito e/ou bom.
Diante dessa realidade, uma estratégia -muitas vezes inconsciente- que negros e negras utilizaram e utilizam até hoje, é o alisamento. É uma tentativa imposta de "embranquecimento" que visa a aproximação do padrão aceitável, o branco.
Esses padrões perduram até hoje, a única diferença que que atualmente o racismo assume outras performances, maneiras mais sutis de propagação e mais difíceis de se perceber.
Hoje em dia não é "politicamente correto" dizer pra uma mulher negra que ela não conseguiu aquela vaga de emprego PORQUE O CABELO BLACK DELA É RUIM E FEIO, mas sim porque ela "não é o perfil que a empresa procura", ainda que seu currículo seja impecável. É o mesmo racismo, apoiado numa mesma lógica que padroniza o que é aceitável e o que não é, compreendem? Os modos de reproduzi-lo é que mudou.
O cabelo crespo é uma ferramenta de luta e resistência justamente porque ele RESISTIU a essas tentativas de invisibilizar as características do povo negro. Ele
Quando assumimos a identidade negra e utilizamos o cabelo como forma de autoafirmação desta, estamos justamente resignificando o que essa textura CRESPA representa para nós. Desse modo, estendemos os sentidos dos nossos BLACKS para além da estética e da moda, uma vez que esse cabelo é um elemento que nos constitui e nos coloca num lugar de RE-EXISTÊNCIA.
outras fontes: